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Parques apoiados na Serra do Espinhaço vivem boom de descobertas botânicas

Um boom de descobertas botânicas. É assim que o pesquisador Renato Ramos, define o que vem acontecendo na Serra do Espinhaço, na região do Norte de Minas Gerais, reconhecida em 2005 como reserva mundial da biosfera pela Unesco justamente por sua grande biodiversidade. Estudos recentes mostram que a região possui mais de 7 mil plantas, das quais mil ocorrem somente lá. “A Serra do Espinhaço continua sendo um celeiro de novas espécies, impulsionado pelo interesse dos pesquisadores”, diz Ramos.

Desde 2022, 18 novas espécies de plantas já foram identificadas nas regiões de Monte Azul e Rio Pardo de Minas, abrangendo, principalmente as Serras das Marombas e Serra Nova. Foi a partir das pesquisas de Ramos, com uso de tecnologias de big data, que ele conseguiu identificar lacunas de conhecimento e, a partir daí, orientar ações em campo. Em conversa com Alessandre Custódio, gestor do Parque Estadual Caminho dos Gerais, Ramos criou uma ponte com outros pesquisadores, que se dirigiram para a região e iniciaram pesquisas de catalogação dessas novas espécies.

“Nosso objetivo é promover a pesquisa científica e ampliar o conhecimento regional”, diz Custódio. Ele explica que as pesquisas têm sido viabilizadas com recursos do Programa COPAÍBAS e do Pró-Espécies, primeiro programa implementado pela Agência GEF FUNBIO, com interação ao Plano de Ação Territorial (PAT Espinhaço Mineiro) para conservação de espécies ameaçadas de extinção. Algumas das descobertas foram realizadas no PE Caminho dos Gerais e no PE Serra Nova e Talhado, ambos apoiados pelo Programa COPAÍBAS. É o caso da Calea riopardensis, assim batizada em homenagem ao município Rio Pardo de Minas, onde fica a sede de uma das Unidades de Conservação, da Calea strigosa e da Lippia aonae, de pequeno porte, com folhas aromáticas e flores delicadas.

“Os funcionários das UCs acabam colaborando muito com as pesquisas de campo e se sentem parte dela”, destaca Custódio. O pesquisador Danilo Zavatin, doutorando em Botânica na USP, corrobora essa percepção. “É um trabalho que tem sido desenvolvido muito em conjunto com os próprios funcionários dos Parques, bem como com a comunidade do entorno. Eles vão a campo junto com a gente e nos auxiliam demais”, conta. Zavatin relembra que chegou com apoio do Pró-Espécies à região em outubro de 2022 e logo em seu primeiro dia de campo encontrou uma espécie nova em Monte Azul. “A publicação teve muita repercussão e virou símbolo da cidade”, diz. Atualmente, Custódio, Ramos e Zavatin buscam formas de viabilizar um livro para a região com as descobertas recentes.

Entre elas estão três novas espécies: Wedelia riopardensis (Asteraceae), dentro do Parque Estadual Serra Nova e Talhado, Staelia fimbriata (Rubiaceae) e Eriope carpotricha (Lamiaceae). A Staelia fimbriata, da família do café, é um pequeno arbusto adaptado aos solos arenosos e pobres da região, conhecidos como “areais”. A Wedelia riopardensis, espécie de margarida de flores amarelas, recebeu seu nome em homenagem a Rio Pardo de Minas, local de sua identificação inicial. A Eriope carpotricha destaca-se por ser uma nova espécie de árvore, rara, que ocorre em áreas de transição entre Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, apresentando tricomas (estruturas parecidas com pelos) únicos nos frutos e sementes.

Para os pesquisadores, muito mais ainda há por vir. “Só em Monte Azul já encontramos mais de 400 espécies, a maioria delas sem registro anterior na região. E já temos outras 20 novas espécies a serem publicadas”, diz Zavatin. “Já são cerca de 1.300 coletas realizadas com o apoio do COPAÍBAS, então esses números só tendem a crescer”, complementa Ramos. As descobertas ganharam destaque no cenário internacional com a publicação de artigos científicos em publicações estrangeiras. Confira nos links abaixo:

Eriope carpotrichalink
Staelia fimbriatalink
Wedelia riopardensislink

Crédito da imagem: Danilo Zavatin

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