
O Cerrado foi o segundo bioma mais afetado pelas queimadas em 2024, com 9,7 milhões de hectares perdidos, dos quais 85% (8,2 milhões) em áreas de vegetação nativa. Houve um aumento de 47% em perdas de hectares em relação à média dos últimos seis anos, segundo dados do Monitor do Fogo do MapBiomas. Para prevenir a ocorrência e reduzir os impactos dos incêndios, o Programa COPAÍBAS vem apoiando ações de planejamento e capacitações em Manejo Integrado do Fogo (MIF), além da compra de equipamentos e EPIs para oito Unidades de Conservação estaduais nos estados de Goiás, Minas, Mato Grosso e Maranhão.
Em abril, o Parque Estadual (PE) Biribiri, em Minas Gerais, recebeu especialistas brasileiros da Universidade Federal de Viçosa e o técnico português Emanuel Oliveira para uma capacitação em queima prescrita, uma das práticas previstas no MIF. O curso, que teve duração de seis dias com aulas teóricas e práticas, contou com 30 participantes, entre técnicos do Instituto Estadual de Florestas, servidores da Diretoria de Qualidade Ambiental da Prefeitura de Belo Horizonte e da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), equipe da Universidade Federal de Viçosa, além da gerente do Parque Estadual Grão Mongol, Débora Mendes e da gestora da UC Serra Nova e Talhado, Grazielly Costa, duas UCs também apoiadas pelo programa.
Parte das aulas práticas, que ocorreram no Parque Estadual do Biribiri, abordaram sobre o uso eficaz de cada equipamento, técnicas de como coibir o fogo para evitar grandes incêndios e ter bons resultados ecológicos. Em campo, os participantes estiveram envolvidos em dinâmicas e escolheram diferentes ambientes do Parque com adaptação natural ao fogo para realizar as queimas prescritas. Durante os estudos teóricos, eles conheceram as diferentes formas e parâmetros de queima prescrita.
Segundo Rodrigo Zeller, gestor do PE Biribiri , há vários estudos que apontam que o Cerrado evolui se adaptando ao fogo. “A capacitação foi essencial para apresentar aos participantes os benefícios dessas técnicas em ambientes como o Cerrado, bioma que evolutivamente depende do fogo de baixa intensidade”, explica.
Fogo como ferramenta de conservação
Há 15 anos estudando o fogo, Emanuel Oliveira destacou a importância da troca de experiências entre profissionais brasileiros e estrangeiros. Em 2024, Portugal passou por severos incêndios florestais, devastando o Norte e o Centro do país. “Tanto Portugal como Brasil precisam reconhecer o fogo tradicional, que moldou nossas paisagens. Temos que fazer um esforço conjunto para melhorarmos o uso do fogo e tornar os nossos biomas mais resilientes às alterações climáticas e aos grandes incêndios florestais”, disse.
Oliveira conta que o intercâmbio sobre a habilidade de lidar com o fogo já existia no passado, com indígenas, quilombolas, caiçaras e europeus. “Assim como contribuí com a formação de técnicos no Brasil, também aprendo com eles que estão em contato com as comunidades tradicionais brasileiras. A diferença entre as escolas está no clima e no tipo de combustível (diferentes vegetações). Por isso, é importante ter essas trocas, que permitem o enriquecimento mútuo de conhecimento”, disse.
Mais apoio para as UCs e seus entornos
Para diminuir os impactos negativos do fogo sobre os recursos naturais, a biodiversidade e a sociedade, o Programa realizou nova chamada de projetos, em dezembro de 2024, para o Manejo Integrado do Fogo nas Unidades de Conservação parceiras e em seus entornos. Os recursos serão destinados para o apoio às ações de estruturação e fortalecimento de brigadas voluntárias e comunitárias já existentes e criação de novas, implementação de melhorias de sistemas e ferramentas tecnológicas para o monitoramento e emissão de alertas de incêndios florestais, como forma de diminuir o tempo de resposta aos episódios. Além de apoio às ações voltadas ao desenvolvimento de ferramentas tecnológicas, mobilização e assistência ao trabalho de brigadas. Os projetos encontram-se em fase de iniciação.
Conheça os novos projetos:
Alianças do Cerrado: conectando governança, comunidades e pesquisa em Manejo Integrado do Fogo de Base Comunitária (Aliança da Terra)
Caminho do Fogo (Rede Contra Fogo)
Cerrado de Pé: Fortalecendo brigada de combate ao fogo no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Conhecer e Prevenir: Estruturação para um Manejo Integrado do Fogo Mais Efetivo (Instituto Ekos Brasil )
Guardiões do Cerrado – Rede de Brigada Comunitária do PDS Bordolândia (Associação Agroecológica Caminho da Paz – ACAMPAZ)
Fortalecimento das Brigadas Voluntárias no Mosaico do Espinhaço e comunidades tradicionais: prevenção, combate e diálogos (Brigada 1)
Manejo do Fogo e Conservação Ambiental: Proteção da Fauna, Flora e Comunidades Ameaçadas (Instituto Semiárido Baiano – ISB)
Manejo Integrado do Fogo no Parque Nacional da Serra da Bodoquena e entorno, no Mato Grosso do Sul (Fundação Neotrópica do Brasil)
Suindara: Resposta rápida e precisa (Instituto Cerrados)
Foto: Anderson Campos