As mulheres vêm se destacando em grupos de Brigadistas Temporários de combate a incêndios em algumas Unidades de Conservação (UCs), principalmente em Minas Gerais. É o que indica a consultoria Saberes – Projetos Socioambientais e Educacionais, contratada pelo Programa COPAÍBAS. O objetivo do estudo é embasar o Programa de Formação em Gênero a ser aplicado nas UCs que fazem parte do COPAÍBAS.
Uma das unidades onde a atuação feminina nas Brigadas Temporárias acabou sendo fundamental se deu no Parque Estadual Veredas do Peruaçu, localizado em Minas Gerais. O parque se encontra dentro dos biomas Caatinga e Cerrado, próximo aos municípios de Bonito de Minas, Cônego Marinho e Januária, a 664,4 quilômetros de Belo Horizonte.
A região conta atualmente com uma mulher, Daniela Viveiros, na coordenação de cinco brigadas, responsável por administrar todo o combate aos focos de incêndio. Daniela comanda 52 brigadistas na Região Norte do Estado de Minas, que prestam serviços ao Instituto Estadual de Floresta de Minas Gerais (IEF-MG). Destes, apenas cinco são mulheres.
Daniela destaca que, apesar de conviver ainda em um ambiente muito machista, a cenário atualmente é bem melhor do que quando começou a atuar no combate aos incêndios há 11 anos.
“Havia um receio de que eu não teria condições físicas de executar a atividade de combate, que é extremamente desgastante. Mas consegui superar isso aliando muita garra em campo e conhecimentos técnico. Aos poucos fui conquistando meu espaço e hoje sou muito respeitada no meio. É muito gratificante ver outras mulheres querendo virar brigadistas seguindo esses exemplos”, afirma.
Minas Gerais conta com um total de 18 bases de brigadistas, inseridas no Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do estado (Previncêndio). A coordenação desse complexo fica a cargo também de uma mulher, Alessandra Melo. De um total de 170 brigadistas, 18 são mulheres.
Para a brigadista Vilene Lopes da Conceição, que atua no Parque Estadual Veredas do Peruaçu e possui quase 12 anos de atuação em campo, essa é a maior prova de que não existe diferença alguma na relação entre homens e mulheres no cumprimento das tarefas dentro das brigadas.
“Entramos com muita garra. Enfrentamos os incêndios do mesmo jeito que os homens, com muito esforço e cuidado. Para mim, serve de aprendizado, como forma de também conscientizar toda a sociedade quanto à proteção do nosso patrimônio ambiental”, destaca Vilene.
Ela também afirma nunca ter sofrido ou presenciado casos de preconceito contra mulheres dentre os brigadistas. O fato de ser experiente no ramo a faz ser uma espécie de orientadora para os mais novos.
“Acho muito necessário abrir mais espaço para as mulheres atuarem nas Brigadas Temporárias. Todas podem contribuir para melhorar o trabalho”, afirma.
Outro exemplo é o de Maiza Lopes Barbosa, de 29 anos, que trabalhou também no Veredas do Peruaçu como brigadista temporária nos anos de 2014, 2017 e 2023. Ela destaca que as jornadas de combate a incêndios são marcadas por um espírito de ajuda e companheirismos incomuns.
“Os brigadistas mais experientes estão sempre atentos aos mais novos. Existe uma grande interação em campo. As mulheres atuam em pé de igualdade com os homens. Não há qualquer diferença nesse sentido”, explica Maiza.
O gestor da unidade, João Roberto de Oliveira, salientou a dedicação e o senso de responsabilidade das brigadistas no combate aos focos de incêndio, incentivando os demais a adotarem uma postura mais responsável e atenta no monitoramento de campo.
“Sempre procurei eliminar o tabu de que a mulher não é capaz de ser brigadista e não aguenta o serviço. O trabalho executado por elas é da melhor qualidade e serve de exemplo para os demais”, completa Oliveira