A ancestralidade de Miguelina Martinha Sampaio, 60 anos, carrega uma energia de muita esperança no futuro. Ainda criança, quando viu a família ser expulsa de suas terras, na comunidade dos Batatais (MT), localizada na Chapada dos Guimarães, prometeu ao avô, indígena de origem Bororo, que estudaria Direito para lutar pelo território de seus antepassados.
“A mãe terra clama por nós. Nossos ancestrais estão enterrados ali. A comunidade de Batatais foi fundada pela sogra do meu avô, Maria Rosa, uma mulher muito forte que se negou a sair daquelas terras. Ali, colhíamos sementes do Cerrado, como coroinha, pequi e cascudo para comer”, diz Miguelina.
Anos depois, passou a participar de grupos da Pastoral da Juventude e das Comunidades Eclesiásticas de Base, ligadas à Igreja Católica. Foi quando trocou o Direito pelo Magistério e se aproximou de projetos voltados à economia solidária. Naquele período, ela ajudou a produzir uma cartilha sobre o Cerrado e a criar o grupo Jovens Vivendo no Campo.
“O objetivo era fortalecer o trabalho na terra. A partir de 1999, começamos a fazer o trabalho extrativista com o baru, a farinha de banana verde, bocaiuva, jatobá e plantas medicinais. Fazíamos tudo em sistema de mutirão, o que garantiu o autossustento da comunidade. O excedente era vendido para a criação de um Fundo Rotativo Solidário, que permitia a compra de comida, remédios, combustível e outras necessidades”, conta.
Segundo Miguelina, a chegada do Programa COPAÍBAS com o projeto Jovens Cuidando do Cerrado e Resgatando a Vida ajudou a dar um salto de qualidade importante em todo o processo.
“Passamos a contar com uma base mais sólida e isso trouxe muita esperança. E o efeito desse esforço foi bastante positivo em toda a região. Outras comunidades estão entrando em contato conosco buscando informações, querendo entender como podem se organizar e obter os mesmos resultados que estamos conquistando. Estamos sendo convidados a coletar baru em outras terras”, comemora ela.
O trabalho desenvolvido junto ao coletivo Jovens Vivendo no Campo, iniciativa que envolve 27 pessoas, entre mulheres e homens, e visa a fixação no território das comunidades rurais tradicionais, ganhou em escala e estrutura. O projeto engloba a consolidação e ampliação das atividades agroextrativistas, gerando renda e preservação da biodiversidade local.
“Mostramos, dessa forma, principalmente aos jovens, que temos como viver em nossa própria terra com dignidade. Não podemos abrir mão dessa riqueza e do nosso modo de vida. Os jovens estão se conscientizando disso. O COPAÍBAS tem ajudado muito nessa ação de valorizar os produtos extrativistas e os conhecimentos tradicionais, além de acompanhar as atividades de coleta, incluindo levantamento de custos, estudos de viabilidade econômica e construção de plano de ação para a potencializar a nossa atividade”, finaliza Dona Miguelina.