Indígenas dos povos Waiana e Apalai, das Terras Indígenas Parque do Tumucumaque e Rio Paru d’Este — umas das regiões mais preservadas da Amazônia, com 4 milhões de hectares, no Pará e no Amapá — participaram de oficinas de boas práticas de coleta e pós-coleta do óleo de copaíba, explorando o manejo sustentável, para garantir mais vitalidade à árvore, maior produtividade e a geração de renda para sua população.
Com o apoio do COPAÍBAS foi possível realizar o zoneamento de áreas produtivas que permite a extração do óleo de modo direcionado. As oficinas contemplaram a identificação das árvores de copaíba, próximas ao rio Citaré, e o mapeamento por meio de GPS — para alguns, o primeiro contato com tecnologia de localização por satélite —, a extração do óleo e o conhecimento sobre as técnicas de armazenamento.
Como parte do projeto Kapaju, mais de 25 integrantes da Associação dos Povos Indígenas Waiana e Apalai (Apiwa) receberam os conhecimentos tradicionais do quilombola e agente comunitário de projetos, Aldo Pita, que aprendeu os saberes da floresta, em especial da árvore de copaíba, com seu avô paraense.
“Para preservar é preciso saber usar adequadamente as árvores. Se souber fazer o furo corretamente em uma árvore de copaíba, após dois anos, a quantidade retirada de óleo é maior. Não se deve extrair tudo de uma vez, porque, depois, não há como recuperar”, alerta Aldo.
A capacidade de cada árvore em acumular o óleo produzido tem influência direta no modo da coleta. Para a extração, Aldo mostrou os indícios da veia do óleo na árvore, destacando, que, visualmente, a região do local de perfuração está associada ao primeiro galho mais forte da árvore e, a partir do som de pequenas batidas, é possível “escutar” a diferença de um local sólido e de um oco, identificando onde está armazenado o óleo.
Reconhecimento em mata fechada
A oficina também foi uma oportunidade para a troca de saberes. Tiago Apalai, cacique da aldeia Arawaka, relatou que o galho maior de uma copaibeira também aponta a direção da próxima. E mostrou que rapidamente poderia identificar outra copaibeira, um pouco mais à frente, cerca de 400 metros, em mata fechada. Aldo destacou que este modo de seguir a dispersão da Copaíba, também é um saber dos quilombolas. Ele aponta que a região apresenta um grande desafio aos indígenas, uma vez que a altura das árvores, que chegam a três metros, dificulta a identificação da espécie.
“Com tantas árvores na mata, foi importante saber diferenciar e fazer bom uso, com todo cuidado para extrair bem e armazenar. A experiência da oficina motivou os mais jovens”, conta o coordenador do projeto, o cacique Arinaware Wayana Apalai.
O aprendizado também contemplou a observação do brilho aparente nas folhas e as ondulações nas cascas das árvores de copaíba para o reconhecimento e o mapeamento. “Nossa convivência com Aldo foi muito importante para nosso povo. Foram duas oficinas que nos ajudaram muito. Agradecemos o apoio”, diz o cacique da aldeia Arawaka, Tiago Apalai.
Dessa forma, os indígenas já identificaram a espécie copaíba marimari (Copaifera reticulata Ducke) com potencial para a extração do óleo, visando geração de renda para as populações locais.
O próximo passo será a construção de um entreposto para que as mulheres das aldeias possam receber o óleo, armazenar, catalogar o produto e trabalhar a venda. E, também, aplicar os conhecimentos em novas áreas para que a atividade extrativista possa garantir o aumento da escala de produção.
Crédito da imagem: Divulgação Instituto Iepé