COPAÍBAS promove encontro em Brasília para capacitação de organizações de base comunitária

Participantes de 16 organizações de base comunitária que atuam nos biomas Amazônia e Cerrado se reuniram entre os dias 21 e 23 de março em Brasília para o encontro Formar Gestão, uma parceria entre o Programa COPAÍBAS e o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IIEB). Cerca de 40 pessoas estiveram no evento, representando instituições selecionadas em 2022 por meio de chamada de pequenos projetos para estruturação de empreendimentos de base comunitária com foco em ações de incentivo à sociobioeconomia. As iniciativas apoiadas abrangem desde o desenvolvimento de boas práticas produtivas, beneficiamento da produção e aumento da capacidade de acesso a mercados, até temas ligados á gestão de negócios comunitários e equidade de gênero e juventude, no âmbito das cadeias de valor de produtos como o açaí, pequi, babaçu, óleos vegetais e outros.

O objetivo do encontro foi construir de forma colaborativa um percurso formativo que deve incluir técnicas de planejamento estratégico, orientações sobre gestão financeira e de projetos, certificação de produtos, acesso a mercados e outros temas. As aulas serão ministradas de forma online ao longo dos próximos meses. Além disso, as organizações receberão acompanhamento individualizado para desenvolver os projetos apoiados pelo COPAÍBAS. A iniciativa integra um dos eixos do Programa que busca promover alternativas econômicas para as populações tradicionais do Cerrado e da Amazônia por meio de investimentos estratégicos. “O que queremos é estimular o uso sustentável da nossa biodiversidade, que é tão rica, eliminando gargalos que dificultem o desenvolvimento dos negócios de base comunitária nos territórios”, explica Paula Ceotto, gerente do COPAÍBAS.

Um dos temas abordados na programação foi a importância de incentivar a equidade de gênero nos projetos apoiados. Ao longo do ciclo de capacitação será realizado um diagnóstico que servirá de base para a elaboração de uma cartilha e a promoção de atividades como rodas de diálogo e oficinas participativas.

 

Projetos apoiados

Boa parte dos empreendimentos de base comunitária que tiveram projetos selecionados pelo COPAÍBAS têm como foco a geração de renda para famílias de populações tradicionais que vivem em territórios nos biomas Amazônia e Cerrado. Um deles está sendo desenvolvido pelo Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz (CDS), no Pará. A ideia é reter o desmatamento por meio do manejo do açaí, encarando os produtos da floresta como fontes de alimentação e geração de renda e apoiando a estruturação da cadeia do açaí nativo. “O projeto inclui ações de suma importância para preservar o território das comunidades. A Amazônia só vai ser conservada do jeito que queremos quando as pessoas que moram na região forem valorizadas”, diz Edilene Silva, coordenadora do CDS.

O fortalecimento das cadeias produtivas também é o objetivo do projeto desenvolvido pela Associação dos Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (Aspacs), em Lábrea, no Amazonas. A iniciativa é voltada a extrativistas, ribeirinhos e povos indígenas do território, que trabalham com óleos vegetais, manteigas e agricultura familiar, tendo como principais recursos o murumuru e a andiroba. Segundo Marcikelly Santos, presidente da Aspacs, com o apoio do COPAÍBAS foram adquiridos um bote, motor e combustível, reduzindo as dificuldades de deslocamento pelo território e melhorando a logística. “Também foram colocadas casinhas de secagem para que os produtores armazenem seus produtos em local apropriado. Essas iniciativas ajudam os povos tradicionais a manter a floresta em pé”, afirma.

A Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas do Lago do Junco (Coppalj), no Maranhão, presta apoio às quebradeiras de cocos  babaçu, passando por todas as etapas do processo de produção, que inclui o beneficiamento das amêndoas, a comercialização e distribuição da renda obtida entre os associados. Entre os desafios enfrentados estão a luta pelo cumprimento da lei que garante o livre acesso ao babaçu, cujas áreas de ocorrência estão em terras públicas e privadas, bem como conter queimadas, grandes derrubadas e envenenamentos, além de fazer o manejo de forma a garantir a sucessão da palmeira. Segundo Silvianete Matos Carvalho, colaboradora da Associação em Área de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema), o COPAÍBAS tem ajudado a negociar acordos de convivência com diferentes sujeitos presentes no território, diminuindo o impacto de atividades como criação de gado e agricultura.

Já o projeto do Instituto Raoni tem como objetivo fortalecer a governança para organizar as cadeias produtivas, de forma que os povos do território tenham autonomia para negociar e incrementar a geração de renda. Entre as atividades contempladas estão a extração do cumaru e o artesanato. “Além disso, recebemos apoio para reformas nas estruturas que já existem, porque queremos retomar a comercialização de produtos como pequi e óleo de copaíba, que havia sido interrompida”, explica a coordenadora de projetos Sol González Pérez.

Outra organização apoiada pelo COPAÍBAS é a Associação Quilombo Kalunga (AQK), que ocupa áreas em três municípios do estado de Goiás e tem como maior desafio a regularização fundiária. Segundo o presidente Carlos Pereira, a renda das 1.300 famílias no território vem principalmente da extração de recursos como mangaba, pequi, jatobá, caju e baru, além da agricultura familiar. “O apoio do Programa vai ser excelente para nos ajudar na estruturação da cadeia produtiva dos produtos da sociobiodiversidade. Também vamos construir a Casa de Cultura e Memória de Produtos Kalunga, onde teremos autonomia para colocar à venda os produtos, trazendo junto suas histórias. Isso vai ajudar a proteger nosso território, valorizar nossos produtores e nossas famílias” afirma.

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